Antes de trabalhar em cruzeiros eu pensava que conhecia o Brasil.
Não apenas os poucos Estados que visitei, mas o Gigante inteiro.
Escola, música e filmes me davam a sensação do saber. A tv apresentava os esteriótipos e belezas, os livros; os detalhes geográficos e históricos.
Mas eu não sabia nada de Brasil até morar fora dele. Longe de casa conheci centenas de brasileiros com linguagens próprias, histórias únicas, culturas distintas… E foi nessa hora que tive noção da proporção de uma nação colossal unida pela sonhada “Ordem e Progresso”.
Histórias de compatriotas que cresceram nadando com poraquês na distante Amazônia
ou em uma fazenda de cacau na Bahia, no melhor estilo Jorge Amado.
Que nasceram em lugares de terra vermelha como no Cerrado
ou em bairros de elite de São Paulo
ou também longe do asfalto, em alguma comunidade carioca.
De tempos em tempos, tenho uma carência “nacional”, talvez uma doença não descoberta, uma saudade do que não vivi, uma vontade de experimentar bacaba, biribá, araticum, pequi, umbu e todas essas frutas de nomes exóticos e gostos desconhecidos.
Passei muitas noites de ansiedade e insônia procurando terrenos para comprar no Brasil, ou estudando o Google Maps e aprendendo através das fotos de satélite lugares avulsos:
“Nossa, olha onde fica o Xingu”
“Meu Deus, o tamanho desse Parque Nacional do Pico de Neblina (RO)”,
“Gente, como faz com uma fronteira desse tamanho?”, “Quero ir no Parque Estadual do Turvo…”
“Terreno no RN ou AL? “
Acho que vou terminar em SC!
E se eu morasse em Goiás ou MG?
“Não sei nada sobre o ES!” foram conversas que já tive comigo mesma.
Enfim, ela me irrita, me entristece, me envergonha muitas vezes. Mas eu a amo. É doloroso ficar longe, mas mais ainda voltar para ficar. O que me resta é vagar pelo mapa e sonhar.
Aquela velha máxima que só damos valor ao que perdemos serve também para a Pátria-Mãe.